quinta-feira, 30 de setembro de 2010

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Não sei se escreva da chegada do Outono. Não sei se escreva da tua voz sumida ao final do dia, quando já nem dás por ti. Não sei se escreva da inflação, se do preço excessivo dos fatos de corte clássico ou da textura das maçãs injectadas que acabei de comprar. Não sei se escreva da distância do teu olhar profundo que não tenho visto ultimamente. Não sei se escreva do tom matizado do oceano que confronta os ilhéus longínquos contra o pôr-do-sol. Não sei se escreva do pó infestado nas prateleiras, se dos processos empilhados sem fim à vista, se da noite passada, maldita dor de garganta, se da saudade do teu cheiro matinal. Não sei se escreva da tua capacidade de prever as coisas, se da tua sapiência visível nas rugas incrustadas nas tuas mãos, se do teu abraço que me tem feito tanta falta. Não sei se escreva das tuas hesitações, se do teu porte cansado ou se das tuas insistências que não quero relembrar. Não sei se escreva do tumulto nas ruas, se do discurso inóquo dos políticos, se da condução perigosa do condutor do autocarro. Não sei se escreva sobre o estado da nação, se da arrogância do pedinte ou da falta de civilidade do cidadão em geral. Não sei se escreva da prescrição em geral ou em particular, se do furto qualificado ou da morosidade do sistema. Não sei se escreva sobre ti, sobre mim ou se de -nós. Não sei se escreva, neste passar do tempo, nesta letargia insustentável de te não ter.

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