segunda-feira, 19 de julho de 2010

Pontas soltas...



Somos as pontas que não conseguimos atar. Apenas vultos. Vultos. Caminhamos na calçada lustrosa ao fim do dia, quando os ares estão confusos. E fazemos eclodir como quem reivindica, os últimos lastros de inocência primitiva. Partilhamos um mesmo palco. Sem máscaras. É impossível protagonizarmos uma tragédia. Se o que temos feito é vasculhar os recantos do que somos. Depois a vida chegou-nos sem aviso. As emoções galgaram os muros, os rios espraiaram-se em direcção ao prometido e houve caminhos sem retorno. Sou diferente, quando não estou contigo, sou razão pura e não esta fé pagã; sou cidade, prédios e prumos, e não um punhado de terra molhada, fecunda e seminal. Sou o perímetro exterior de mim própria e não o âmago de tudo o que afinal me compõe.Estás mais irresistível, mais improvável. Mas eu gosto de ti nestes volteios a galope pelas nossas areias movediças. Gosto, mesmo, porque tu não me pedes, não impões que te queira nem pedes licença para entrar. E vens-me abrir a porta do carro com esse ar afivelado de preocupações. Caminhamos. Sem destino marcado. Talvez porque mereças palavras de outrora, onde pululavam luares embriagados e inconsequências, apenas te ofereço o imediato, que não mais posso guardar. Queremos ser o esbulho recíproco do nosso património corporal sem reposição do mesmo género e da mesma quantidade. Queremos ser arrolados para o mesmo espaço exíguo de uma repartição pública. . Ligas-me, e eu espero, desejo e espero, que despejes para um gravador o teu erro, o teu tédio, o teu gozo, os pedidos, as desculpas, as incríveis novidades do mundo ou, quem sabe, a precisão dos beijos empoeirados que esqueceste e deixaste em mim. Chegávamos antes de partir. Para agora partirmos sem chegar.

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