domingo, 31 de outubro de 2010

Introspecção I



Estou introspectiva. De ressaca. Estou uma chaga viva. Estou a uma hora do que nos separa, passado irrepetível. Estou contra a crise. Estou com a conta a zeros. Estou a lamentar-me só porque sim. Olho em redor e não estás. Passo em redor daquilo que fui e não me apetece voltar. Só pelo tédio das demoras, pelo tráfego das ruas ou pela ruptura geral do sistema. Estou deslocada. Estou insuportável mesmo depois da cafeína começar os seus efeitos mais práticos. Já ia sendo tempo de virar o rumo do costume, quebrar rotinas, enveredar pelo consabido caminho de que falavam. Os outros. Sempre os outros. Estou circunscrita, apática, uma espécie-de-qualquer-coisa. Não sou carne nem peixe, nem ave nem ondas nem rocha indestrutível. Não sou beco nem estrada nem escarpa nem horizonte. Não sou apregoada nem achada nem o que me peçam para ser. Estou atirada para sítios onde vou sendo amanhãs mais prósperos. Na rua há já natais antecipados, rostos costumeiros, e verões habituais. Há promessas com um fim renunciado, falsas ideologias que quebram os tumultuosos acontecimentos que ainda estão para vir. E depois não concebo que me deixes de qualquer forma, assim como se o adeus já fizesse parte do ritual que se pré estabelece entre nós. Não me ocorrem palavras para te descrever, assim como não ocorrem razões para explicar isto. Até podia fazer um esforço mas estás para lá de qualquer explicação. E é bom que existas. Que existas. Sempre.

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